JOSÉ
REIS
especial para a Folha
John
Middlebrooks e seus colaboradores, do Instituto do Cérebro
da Universidade da Flórida, publicaram na revista "Science"
(264, 842) suas experiências e observações sobre a transmissão
dos sons no cérebro. Eles entendem que a transmissão nas
áreas auditivas não se faz por meio de mapas espaciais,
como em outros sentidos, mas por processos diversos que
eles descobriram. No mesmo número da revista Marcia Barinaga
resume o artigo científico e compara o cérebro a um atlas
cujas folhas correspondem aos mapas espaciais que registram
as partes do corpo onde se passam os eventos assinalados.
Assim,
se ferimos um dedo, repercute o fato no mapa espacial
correspondente, na área própria do dedo alcançado. Se
um bola se aproxima de nós, isso é registrado no mapa
do córtex visual correspondente e podemos decidir se apanhamos
ou desviamos a pelota. Mas no atlas de Barinaga faltam
as folhas relativas aos até agora inexistentes mapas auditivos
espaciais. Middlebrooks tem dedicado muitos anos à procura
desses mapas. Porém, como outros, não os têm encontrado.
Tratou então de verificar se a transmissão sonora no córtex
auditivo ocorre por outros meios.
Ele
descobriu que os neurônios (células nervosas) numa área
do córtex auditivo denominado sulco ecto-silviano anterior
"acendem" ou disparam números semelhantes de impulsos
("picos", por seu aspecto no osciloscópio) independentemente
da origem do som. Embora o número de picos não variasse
significativamente com a localização sonora, entendeu
Middlebrooks que talvez houvesse alterações no padrão
dos picos. Esses picos poderiam começar mais cedo ou mais
tarde, ou sua frequência variar conforme a origem do som.
Postulou ele então que diferenças de padrão no disparo
dos neurônios poderiam indicar a localização espacial
dos sons.
Para
confirmar suas suspeitas, Middlebrooks armou experiência
em que construiu uma rede neural computadorizada e usou
gatos para registrar a atividade elétrica no sulco ecto-silviano,
ou melhor, nos neurônios isolados dessa região. Verificou
que a rede neural localizava precisamente a origem dos
sons, falando a favor de sua hipótese. Resta apurar algumas
dúvidas, mas tudo indica que Middlebrooks e seus colaboradores
acharam efetivamente o sistema que no córtex auditivo
substitui o mapa espacial.