RUBEM BRAGA
Chamam-me
a atenção para um artigo do se. Jacob Gorender na "Imprensa Popular"
em que há referencias a uma de minhas cronicas sobre a questão
do petroleo. Diz ali o sr. Gorender que eu, citando as forças
que sustentam a tese nacionalista, cometi a injustiça de omitir
a presenças da classe operaria.
Na
realidade, se não fiz referencia expressa aos operarios não os
omiti; eles estão incluidos naquelas forças populares que eu disse
terem sido mobilizados pelos politicos, jornalistas e intelectuais.
O sr. Gorender afirma, e eu não o contradigo, que o Partido Comunista
teve um grande papel nessa mobilização. Ora, os quadros de militantes
do P.C.B. agiram exatamente em função de seus politicos, jornalistas
e outros intelectuais; esses é que influiram sobre a massa a favor
do monopolio estatal, como tinham influido a favor do engenheiro
Fiuza, por exemplo. O que o sr. Gorender talvez não perceba é
que, ao mesmo tempo que contribuiram e muito, para tornar popular
a idéia do monopolio estatal, os comunistas tambem a prejudicaram
em muitos setores populares, devido exatamente ao seu apoio. Para
muita gente, não apenas da camada mais prospera, como tambem do
proletariado, e principalmente da classe media, o apoio comunista
torna qualquer tese suspeita. Isto é apenas um fato, que estou
referindo e não discutindo.
O
sr. Gorender diz que só por leviandade poderia eu aludir aos interesses
da politica sovietica; para ele o nacionalismo comunista seria
nascido aqui mesmo; não teria essa origem. Pergunto-lhe, então,
que pensa do nacionalismo hungaro; ainda será capaz, o sr. Gorender,
de sustentar com sinceridade que a revolução hungara foi obra
de latifundiarios e agentes imperialistas, quando todas as evidencias
mostram que foram as organizações operarias que a dirigiram com
apoio maciço da população?
Quanto
à antiga atitude comunista no assunto do petroleo não é exato
o sr. Gorender quando, ao enumerar os projetos apresentados pela
bancada comunista em 1947, diz que eles estabeleciam "em torno
da iniciativa estatal e privada todo um sistema de defesa dos
interesses brasileiros contra a ação dos trustes internacionais".
Convido-o a reler com atenção os projetos 382 e 412 e verificar
se não tem razão Gondin da Fonseca ao mostrar que eles - principalmente
o primeiro - tornariam extremamente faceis as manobras dos trustes
embora certamente, por inadvertencia.
O
verdadeiro nacionalista tanto admite o nacionalismo na Guatemala
quanto na Hungria. Nacionalismo como o entendo não é odio ao estrangeiro,
xenofobia, e muito menos ditadura; é simplesmente defesa dos interesses
do povo país contra a exploração economica ou a opressão politica
por parte de outras potencias. Esse nacionalismo defensivo é o
que é necessario ao Brasil. Ele deve ser objetivo, pratico, e
não mistico. Nada me desgosta mais que o primarismo dos anti-comunistas
que vêem tudo da Russia como obra de capetas ou o tom longamente
adotado pela "Imprensa Popular" divisando em tudo que é norte-americano
corrupção, imperialismo, bestialidade, ignorancia.
Tenho
visto os comumnistas no Brasil lutarem ao lado dos democratas
contra o fascismo e tambem já os vi ao lado da ditadura contra
os democratas. Embora não seja um politico militante dou, às vezes,
meus palpites; e prefiro tomar posição, tanto em questões politicas
como economicas, sem ligar o fato de estar contra ou a favor dos
comunistas. Assim acontece nesta questão do petroleo. Embora muito
enfraquecido, o Partido Comunista ainda tem forças, organização
e habilidade para atuar em uma campanha de massas. Que o faça
no caso do petroleo mas sem pretender, como é seu vezo antigo,
prejudicar uma boa campanha com palavras de ordem "a reboque"
sobre assuntos que só interessam realmente sua politica propria
ou suas vinculações internacionais.