SACCO E VANZETTI
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Publicado
na Folha da Manhã, segunda-feira, 22 de agosto de
1927
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Serão
executados depois de meia noite de hoje os anarchistas italianos Nicolau
Sacco e Bartolomeu Vanzetti - Todas as tentativas para que a sentença
de morte fosse revogada falharam - "Nunca procures a riqueza,
pois o ouro não traz consigo felicidade", disse Nicolau
Sacco despedindo-se de seu filho
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Deve terminar hoje a longa e dolorosa agonia de Sacco e Vanzetti.
Tudo está prompto para o sacrificio supremo. Assim, os dois
infelizes que, durante mais de sete annos, preoccuparam a attenção
do mundo inteiro, não terão mais trabalho que o de sentarem
na cadeira funebre. A espera de que pelos seus corpos passem, num
arrepio rapido, as caricias mortaes das correntes eletricas. As roldanas
da manchina infernal foram de novo azeitadas e o commutador foi posto
em boa ordem de funccionamento... No cubiculo da morte, a justiça
deu corda ao relogio, para que os ponteiros não empérrem
nos minutos fatidicos.
Sete annos de incertezas e esperanças emprestam a este caso
a solennidade das grandes tragedias. Appellos, supplicas, rôgos,
preces e recursos da advocacia, foi tudo inutil. A justiça
americana é infalivel e não tem que dar satisfação
ao sentimentalismo do mundo. Sacco e Vanzetti mataram para roubar.
Pois que sejam justiçados. Se elles, são innocentes,
que paguem os innocentes pelos pecadores. A pena de morte, mais do
que um castigo dos criminosos, deve ser um exemplo nos que ainda não
tiveram as suas mãos manchadas de sangue.
A cinematographia há de ter influído muito na justiça
que prolongou a tortura de Sacco e Vanzetti. São, realmente,
cinematographicas as enscenações preparadas para este
proceso. Fazem lembrar um conto celebre, de Villers de l'Isle Adam:
"A tortura da esperança". Quando tudo se acreditava
perdido, eis que o juiz Thayer adia a execução. A humaniadade
respirou, desafogada. Tornaram-se mais fervorosas as orações.
Renasceu a esperança em todos os peitos. Falou-se em "sursis".
falou-se em "habeas-corpus". Os condenados foram desalojados
da "cella da morte" e levados para longe, para um cubiculo
mais claro, mais alegre. Os filhos dos infelizes tiveram permissão
para ver os seus paes.
De repente, porém, a Côrte Suprema de Boston recusou
a revisão do processo e confirma a sentença de morte.
O pedido de "habeas-corpus" não dá entrada
do Tribunal Superior, porque lhe faltam certas peças indispensaveis
do processo. A commissão inculbida de pleitear a defesa dos
accusados manisfesta publicamente a sua desesperança. Sacco
despede-se de seu filho. Os condemnados são conduzidos, novamente,
para o cubiculo funebre. Todos os braços cáem, no desanimo
extremo. Desfazem-se as ultimas claridades. A tragedia vae entrar
no seu ultimo acto. Já os machinistas se preparam para correr
o velario. Os espectadores estão suspensos por um fio. O minimo
ruido não perturba o estado de concentração do
espirito. Silencio.
Cahirá, de facto, o panno, esta noite, sobre a tragedia terrivel?
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O
crime |
O crime de que são accusados Nicolau Sacco e Bartolomeu Vanzetti
foi praticado no dia 5 de Maio de 1920, portanto, há sete annos,
tres mezes e dezessete dias. Consiste num duplo assassinato, por motivo
de roubo, praticado em Soupt Brainther, no Estado de Massachussetts,
na America do Norte. O pagador Frederico Parmenter e o agente Alessandro
Berardelli, empregados da firma Slater e Merril Shoe Company, eram
portadores de 15.000 dolares, importancia essa que representava o
pagamento semanal dos operarios daquella casa. Proximo áquella
fabrica foram esses dois empregados assaltados, assassinados e roubados.
Os ladrões, que apenas foram vistos de relance sem, porém,
que fossem identificados, fugiram em diversos automoveis.
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O
primeiro Jury |
Em 1920, presidido pelo juiz Thayer o jury, reconhecendo culpados
os dois italianos Sacco e Vanzetti, os condemnou á cadeira
electrica.
Os advogados dos condemnados, porém, appelharam da sentença
do juiz Thayer. Auxiliados pela commissão, que nessa época
se formará para a defesa dos accusados, aquelles advogados
solicitaram para a revisão do processo, sendo, então,
suspensa a execução.
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O
segundo Jury |
Quase sete annos depois, isto é, em 9 de Abril de 1927, o mesmo
juiz Thayer, da Côrte de Dedham, confirmou a sentença
de morte dos dois anarchistas. Esta segunda audiencia que se realizou
a portas fechadas, deixou no espirito dos poucos assistentes, a impressão
mais dolorosa que se possa imaginar. É uma verdadeira pagina
dramatica, que talvez, o cerebro humano, até hoje, não
tenha ainda ideado
Fomos os unicos a descrevel-a em nosso jornal de 1 de junho e a emoção
de que é tomado ao se ler as declarações dos
accusados dá bem idéa do horror que invadiu as almas
dos presentes. Sómente os accusados se mantiveram numa tragica
impassibilidade.
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Mais
recursos |
A commissão de defesa pró-Sacco e Vanzetti, passado
o primeiro instante de surpreza que lhe causára a confirmação
da sentença, apezar das innumeras provas favoráveis
apresentadas, recorreu ao governador Fuller, do Estado de Massachussetts.
Este nomeou, então, uma commissão especial, destinada
a examinar todas as peças do processo e, não satisfeito
com isso, estudou sozinho e de visu todas as provas pró e contra
os accusados.
Esteve presente ao local do crime, mediu, inquiriu, indagou, manteve,
por diversas vezes, longas conferencias com os condemnados e resolveu
confirmar a sentença medonha.
Emquanto era attendida a decisão de Fuller
Depois de se reunir em sessão secreta, a commissão consultiva,
presidida pelo reitor da universidade de Haward, professor Lawell,
ouviu a peroração do advogado Thompson, que falou durante
4 horas, e as argumentações do procurador districtal
Ranney.
Tanto os advogados da defesa Thompson e Ehrmann, como Ranney, á
sahida da sessão, recusaram-se a fazer revelações
sobre as theses sustentadas.
Ao mesmo tempo o governador chamava á "State House"
outras testemunhas, interrogando-as em presença do advogado
Wiggin.
Entre as pessoas interrogadas naquelle dia, notaram-se o deputado
estadual Lewis Sullivan, que escutou os commentarios do juiz Thayer,
hostis aos condemnados; o sr. Frank A. Brooks presidente da Commissão
Estadual dos Pedestres; o publicista Felice Guadagni; os srs. James
Hogsett, Luiz Falsini, um carcereiro da penitenciaria de Charlestown
etc.
O governador continuará por alguns dias o interrogatorio de
outras testemunhas entre as quaes o professor Antonio Dentamara residente
em Nova York, que foi importante testemunha de defesa no processo
de Dedham.
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Vanzetti
investiu contra o governador Fuller |
Chegou-se a propalar, algum fundo de verdade, um facto que, pela sua
divulgação inedita, merece especial registo nas chronicas
negras do martyriologia de Sacco e Vanzetti.
No gabinete do director da Penitenciaria, de Charlestown, o governador
Fuller fôra interrogar os dois detentos, inclusivé o
portuguez Celestino Medeiros.
Nenhuma jornalista fôra admitido a assistir ao interrogatorio
que se revestiu de um dramatico conciliabulo.
Sacco e Vanzetti foram interrogados separadamente, e o interrogatorio
durou mais de um quarto de hora.
As respostas de Vanzetti foram dramatississimas, durante as quaes
o preso tentou investir contra o governador e a commissão consultiva.
Porquanto quase sem forças pelo jejum expontaneo Vanzetti teria
falhado com vivacidade, em voz alta, gesticulando animadoramente,
investindo com palavras asperas contra a "justiça de Massachussetts"
e contra o juiz Thayer que "tem urdido a trama de tão
infame processo".
O governador vermelho contrariado pela inesperada e amarga philippica
do prisioneiro sahiu á rua sem ao menos attender aos "reporters"
que o esperavam pacientemente. Tinha perdido sua calma habitual, e
apenas entrou no automovel que o attendia bateu a porta violentamente.
Um velho reporter, que conhece o governador intimamente declarou:
"Nunca o vi tão desorientado e nervoso. Elle nunca se
mostrou tão brusco para com os jornalistas".
A senhora de Nicolau Sacco ao sahir da visita fizera ao seu marido
assim falou.
"Bartholomeu e o meu Nicola não esperam mais um acto de
clemencia do governador, ou um juizo sereno da sua commissão.
Tudo está acabado".
E retirou-se banhada em pratos...
De facto, mas depos era conhecido o resultado dessa nova tentativa
de defesa.
O governador Fuller confirmara a sentença tremenda.
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De
todo o Mundo |
É grande a consternação em todo o mundo, principalmente
nas classes operarias, provocada pela decisão da Suprema Côrte
de Justiça dos Estados Unidos, confirmando a setença
de morte contra Sacco e Vanzetti.
Assim, grande numero de pedidos, de todos as partes do univeso, têm
sido dirigidos ao governador Fuller no sentido de ser commutada a
pena imposta aos dois operarios italianos.
A noticia de que Alfredo Dreyfus acceitara o convite para tomar parte
num "comité" francez pró Sacco e Vanzetti
que iria á America, causou profundo interesse em Boston.
Dreyfus consistiu a figura central de um dos mais sensacionais dramas
judiciarios, que commoveu sobremaneira a opinião publica mundial.
Accusado de alta trahição, foi condemnado á prisão
na Ilha do Diabo, na Cayenna, e sómente após quantro
annos de sofrimentos moraes, obtivera a liberdade e a honra de condemnado
politico.
Um dos seus mais estrenuos defensores fôra o grande romancista
Emile Zola.
A defesa que faria o sr. Dreyfus, portanto, seria uma recordação
do atroz erro judiciario que ameaçou troucar-lhe, a reputação
de homem politico e a existencia de homem honesto.
A decisão do governador Alvan T. Fuller, condemnando irreversivelmente
os dois amarchistas italianos, causou sensação em todo
o mundo civilizado.
Há dias, Fuller depois de ter interrogado varias testemunhas,
isto antes de sua decisão, fez uma visita aos dois condemnados
nas prisões de Charlestown, e logo depois dirigiu-se a South
Braintree, um bairro de Boston, onde encetou a reconstrução
do delicto.
Com a ajuda de dois policiaes, o governador levou a effeito numerosas
medidas e inquirições na mesma rua onde se deu o assassinio.
Entre as numerosas pessoas recebidas pelo sr. Fuller, destacou-se
mrs. Jessica Henderson, rica senhora de Maryland, que chamou a attenção
do governador sobre as extraordinárias precauções
da policia no referente á Côrte de Dedban, durante o
processo para prevenil-a dos attentados anarchistas.
No dizer da senhora Henderson creava a policia uma atmosphera desfavoravel
aos condemnados, pois todas as pessoas que quizessem assistir ás
sessões da Côrte eram minusiosamente revistadas.
Um dos componentes da Junta teria exclamado precedentemente:
- Condemnal-os. Elles devem morrer de qualquer modo".
A autora de tão impressionantes revelações, espera
ver ainda recebida pelo governador Fuller.
A dilatação do prazo, concedida aos dois anarchistas
e a Celestino Madeiros, cuja confissão tendia livrar Sacco
e Vanzetti, contribuiu para prolongar de maneira barbeira a agonia
dos dois suppostos assassinos que têm a palavra amiga de todo
o mundo.
Nicola Sacco conservara-se na greve da fome, emquanto que Vanzetti
mais optimista alimentava-se demonstrando um estoicismo incommum.
O dr. Joseph Me Laughlin, examinando Nicolau Sacco declarara que o
jejum não deixado traços sensiveis no physico do condemnado.
*
Em Boston, o comicio de protesto internacional no qual interveio o
advogasdo Clarence Darrew, o mais celebre advogado de Chicago, que
perorou estymatisando a decisão do governador Fuller, foi um
eloquente attestado da revolta que prende os animos do proletariado
de todo o mundo.
Semelhantes demonstrações realizaram-se nas mais importantes
cidades de todo o mundo como Paris, Stockolmo, Roma, Buenos Aires,
Nova York, Pittsburgo, Toledo, Cleveland, Detroit etc.
De nada valem porém, esse grito unanime de revolta.
A Justiça Americana, fez pesar com escabrosa consciencia, o
severo dedo, na balança de suas leis, mais severas ainda.
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Novas
esperanças |
Recorreram, então, os advogados á Côrte Suprema
do Estado para autorizar um novo processo. Sciente do pedido recusou-se
a Côrte a essa autorização e foi determinado a
data de hoje para a execução.
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Tudo
perdido |
A commissão incumbida da defesa, deante desta ultima decisão,
perdeu todas as esperanças de salvar os accusados. O recurso
á Suprema Côrte dos Estados Unidos, se fôr levado
a effeito, nenhum beneficio poderá trazer.
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Como
se fará a execução |
A execução de Sacco, Vanzetti e Medeiros será
feita da seguinte fórma:
Os condemnados devem encontra-se em cellas sepradas, que dão
para um corredor que termina na sala de execução. Taes
cellas são dispostas de tal maneira que os condemnados não
vejam o primeiro que fôr para o salão da cadeira electrica,
o qual mede cerca de sete metros quadrados.
No fundo de parede, distante cerca de um metro, fica uma cadeia tosca,
feita de madeiras grossas, sem nenhum torneado, com varaes de duas
pollegadas de espessura. Na parte do lado opposto, em frente á
cadeira, tres séries de bancos para seis pessoas, mais ou menos.
Os condemnados têm o direito de serem satisfeitos nos desejos
que manifestaram no dia da execução, podendo até
pedir bebidas alcoolicas ou outra coisa que lhes acudir à mente.
Acompanhado do medico do estabecimento, de varios guardas, do executor
eletricista, do escrivão que lavrará o auto de morte
e das testemunhas, que deverão assignar os documentos, á
hora marcada o director da prisão dirige-se para a cella, que
abre.
Um cura, ou pastor, ou sacerdote de qualquer seita religião
a que pertença o infeliz, será o primeiro a entrar no
cubiculo, offerecendo os seus officios religiosos antes da execução.
O condemnado prepara-se e, em geral, amparado pelo braço de
dois guardas carinhosos, segue para o supplicio.
Chegando á sala da execução, as testemunhas tomam
assento nos bancos fronteiros á cadeira electrica, o director
da prisão pergunta quaes são as suas ultimas declarações
a fazer, e em seguida prosegue-se a collocação do infeliz
na cadeira electrica. Antes vendam-lhe os olhos se elle assim quizer.
Tiram-lhe o paleto, arregaçam-lhe as mangas até a altura
dos cotovellos e cortam a calça com uma thesoura na parte da
frente até a altura dos joelhos.
O condemnado é sentado então na cadeira electrica, que
é de braços.
Os ajudantes da execução passam sobre o thorax do condemnado
uma larga correia de couro, de cerca de duas pollegadas de largura,
afim de que o corpo fique justo ao encosto da cadeira. Esta correia
é afivelada nos varaes trazeiros de cadeira.
Os braços são collocados sobre os braços da cadeira,
em posição de modo que o pulso fique voltado para cima.
Duas correias afivellam o braço, do infeliz no braço
da cadeira, ao mesmo tempo seguram uma placa de metal com fios electricos,
de polo negativo.
A mesma coisa é feita com a parte inferior das pernas que ficam
tambem afivelladas a cada perna da cadeira, levando egualmente uma
chapa de metal com fios electricos de polo negativo.
Em geral são tres os funccionarios da prisão que fazem
este ajuste do corpo a cadeira electrica, ocupando-se um da alça
do thorax e os outros de cada braço e pernas.
O serviço é feito assim simultaneamente para abreviar
á sombria espera a cerca de tres minutos no maximo.
Então, um capacete de metal de onde sahem os fios de polo positivo
electrico é collocado sobre a cabeça do condenado.
O executor electricista segue para uma cabine que se encontra em um
dos angulos da sala e colloca a mão na manivella que dá
a ligação electrica .
É então imposto o maior silencio aos circunstantes.
O diretor da prisão de relogio em punho dá o signal
convencional.
O eletricista liga a manivella morticida.
Um tremor profundo sacode o corpo do accusado ao receber a descarga
de 3.000 volts electricos, porém, as correias contém
o corpo na posição forçada para que o mesmo não
seja jogado fóra. A corrente electrica demora dez segundos
em regra, findos os quaes um novo acceno do director da prisão
faz com que o electricista desligue a corrente.
O medico da prisão examina então o corpo e vê
se ainda lhe resta signal de vida.
Em regra, a primeira ligação é sufficiente para
matar em poucos segundos. Ás vezes, porém, existe a
necessidade de nova ligação por mais dez segundos.
Verificada a morte, entram os medicos encarregados da autopsia do
cadaver emquanto os outros funcionarios lavram o acto da execução.
Uma carreta dessas que se usam nos hospitais para transportar doentes
é trazida da sala de autopsia que é contigua á
sala de execução e o corpo é collocado sobre
a mesma.
Se houver necessidade de autopsia immediata, far-se-á poucos
minutos depois de morto o individuo; em caso contrario, o corpo é
guardado em uma grande geleira para que o exame necrologica seja feito
no dia seguinte pela manhã.
O exame consiste na abertura do craneo e extração do
cerebro.
De accôrdo com as leis norte-americanas, parte deste cerebro
é enviado para Washington, afim de ser guardado no Museu Central
e privativo dos condemnados á morte, emquanto outra parte fica
na prisão tambem conservada em vidro, tomando o numero, a data
e a hora da execução.
A cerimonia é sempre a mesma e havendo varios condemnados ella
se repete com uma egualdade absoluta.
Em torno do pavilhão da cadeira electrica ha muitos canteiros
floridos de lindas gardenias.
Estas gardenias symbolisam, apesar da sua expressão sayve,
a vida de cada condemnado que desapparece.
O jardineiro da prisão de accôrdo com um tradicional
costume usado nas prisões norte-americanas, planta sempre uma
gardenia toda a vez que desapparece um infeliz.
Segundo a opinião geral dos medicos de que a base do cranio
é o centro do systema nervoso, é nessa parte do corpo
humano que a justiça Americana põe a maior parte da
energia electrica, nos casos de electrocução.
Edison, o grande inventor americano, é de opinião contraria,
achando que os líquidos do corpo humano são melhores
conductores da electricidade do que os ossos...
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Uma
execução |
Assim descreve um jornalista um caso de electrocução.
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O
medo mata |
O medo pode levar um homem covarde a rasgos de heroismo e pode tambem
matar um individuo de coragem.
E, nesse caso, pode-se incluir o immigrante allemão, Gustavo
Kross, de 25 annos de idade.
Esse homem era accusado de ter degolado o seu patrão.
Condemnado á electrocução, Kross deu mostras
de grande terror, sendo preciso que lhe puzessem uma mordaça
e lhe amarrassem a boca afim de que elle, com os dentes, não
despedaçasse a lingua.
Pois, no dia marcado para a execução os carceireiros
foram encontrar Kross morto, agarrado ás grades da cama...
O homem morrera de medo!
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Estou
no inferno! |
Essa foi a expressão de um bandido celebre, no momento de ser
elocutrado.
Cynico, extremamento cynico. Sam Periz, que era chefe de perigossissima
quadrilha que operava na Lousania, passou os seus ultimos dias a fumar
e a cantar, escrevendo repetidas cartas ao director da prisão
reclamando contra o mau passado que lhe davam.
Conduzindo para a casa da morte, pouco antes de ser elocutrado, cumprimentou
as pessoas presentes e disse:
- Estou aqui, estou no inferno!
E morreu!
O condemnado, recebeu a descarga e foi circumdado de pequenas chispas
azuladas. As mãos se contorceram convulsivamente e a bocca
teve um estremecimento horrendo, bestil, de féra degollada.
Os medicos auscultaram-lhe o coração. Ainda batia. Deram-lhe
outra descarga e, já cadaver, foi levado para a sala de autopsias,
que ficava no apartamento contiguo. O cerebro do condemnado, como
de praxe, foi enviado para o laboratorio, afim de ser examinado.
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A
única esperança |
BOSTON, 21 - O "comité de defesa parece haver dado como
findo o seu combate abjectando salvar da cadeira eletrica os condemnados
Sacco Vanzetti, annunciando hoje que o Juiz Brandeis, da Suprema Côrte
dos Estados Unidos, se recusára a conceder a ordem de "habeas-corpus"
impetrada a favor dos accusados.
O "habeas-corpus" alludido visava a suspensão da
execução até que fosse apresentada á Suprema
Côrte Federal nova appellação da sentença
confirmada pela justiça de Massachussets.
A única esperança de salvação dos réos
está agoara em novo adiamento ordenado pelo governador Fuller,
como aconteceu a 10 do corrente, poucos minutos antes de iniciar-se
o periodo em que os dois anarchistas seriam executados.
Se o governador Fuller não intervier antes de meia noite de
amanhã, Sacco e Vanzetti poderão ser executados a qualquer
momento, a partir daquella hora até meia noite da outra segunda-feira.
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Nos
meios Judiciaes de Washington |
WASHINGTON, 21 - Nos meios judiciaes desta capital assegura-se que
a Suprema Côrte Americana não receberá o recurso
que da sentença da Federal Distriet Court lhe foi interposto
pelo Comité de Defeza de Sacco Venzetti.
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Dispersando
violentamente manifestações |
BOSTON, 21 - A policia desta cidade dispersou, hoje, violentamente,
uma manifestação em que tomaram parte mais de 20.000
pessoas.
Foi empregada a cavallaria, que deu uma carga sobre as manifestantes.
A multidão precipitou-se deante dos cavalleiros, procurando,
a todo transe, escapar ás patas dos animaes.
Não houve feridos.
O "comité" de defesa dos condemnados Sacco e Vanzetti
pedirá "habeas-corpus" para a suspensão da
execução, ao juiz-presidente da Suprema Côrte
dos Estados Unidos, o ex-presidente Taft, caso o juiz Stone recuse
tambem a medida, como fez o famoso juiz judeu Brandes.
O juiz Taft, presentemente, se encontra no Canadá.
|
O
Encontro de Luigia Vanzetti com seu irmão |
A sra. Luigia Vanzetti visitou sabbado seu irmão. Sua chegada
á "Casa da Morte" occorreu ás 11 horas e 20
minutos da manhã.
Vanzetti foi trazido da sua cella, para o seu encontro de lagrimas
com Luigia, a primeira vez que se viam frente á frente um do
outro nestes ultimos deszenove annos.
Ambos abraçaram-se fortemente, e Luigia, chorando em desabafo,
pareceu por um momento quase desmaiar, dando-lhe Vanzetti um pouco
de agua para a reanimar.
Por entre prantos, ella conversou com Vanzetti em italiano e permaneceu
ali cerca de uma hora.
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As
manifestações no exterior em Paris |
PARIS, 2 - A manifestação projectada para hoje, a favor
de Sacco e Vanzetti, foi prejudicada pela chuva que cahiu durante
todo o dia.
Assim, a assistencia foi diminuta, nada se tendo registrado de anormal.
PARIS, 21 - Nos arredores desta Capital os communistas levaram a effeito
hontem varios meetings de protesto contra a proxima execução
de Sacco e Vanzetti. Nesses comicios não houve nenhum incidente.
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Na
Inglaterra |
LONDRES, 21 - Houve, esta tarde, no Hyde Park, um grande comicio de
protesto contra a execução de Sacco e Vanzetti.
Cerca de 12.000 pessoas applaudiram os discursos ali pronunciados.
Logo depois, a manifestação dissolveu-se, sem o menor
incidente.
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Na
Argentina |
BUENOS AIRES, 21 - Está-se intensificando nesta capital a reação
operario contra a execução dos anarchistas italianos
Sacco Venzetti.
A União Syndical Argentina realizou hoje um comicio de protesto,
na praça Onze, sendo, porém, pouco concorrido.
Diversos gremios operarios se preparam para declarar amanhã
a greve, a partir de meia noite.
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Mais
um pedido de clemencia |
LONDRES, 22 (H) - A Legião Italiana da Grã-Bretanha
passou um radiogramma ao presidente Coolidge, pedindo graça
para os anarchistas italianos Sacco Venzetti.
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A
greve geral em S. Paulo |
Attendendo ao appello de seus companheiros de todas as partes do mundo,
e em signal de protesto pela electrocução de Sacco Vanzetti,
os operarios de S. Paulo declaramaram-se hoje em greve geral.
Apesar da attitude pacifica dos paredistas, a policia está
de promptidão, desde a madrugada de hoje, não se tendo
registrado, até agora, o menor incidente.
Na Lapa, houve uma ameaça de conflicto, sem nenhuma repercussão. |
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