UMA AVENTUREIRA DO AMOR
Uma
aldeã judia disputada pelos grandes duques russos
|
Publicado
na Folha da Manhã, segunda-feira, 9 de janeiro de
1928
|
|
Neste texto foi mantida a grafia original
|
Maritzka era a filha de um camponez judeu que vivia na pobreza, perto
de aldeia de Somogy Szill, na Hungria.
O seu appelido era Rath. A joven o trocou pelo aristocratico de Reesey,
quando, com a edade de dezeseis annos, fugiu do lar paterno e appareceu
como bailarina e cantora num dos "cabarets" elegantes de
Budapest.
Era uma mulher de belleza extraordinaria. Em poucos dias chegou a
ser a estrela do "cabaret".
Certo dia desapareceu sem deixar uma palavra nem um indicio aos seus
numerosos admiradores.
Logo depois se soube que tinha fugido com um violinista bohemio. O
casal mudou-se para Berlim, onde a aventura sentimental terminou muito
depressa. Budapest, porém, não tornou a ver Maritzka
por mais de quinze annos.
A ex-aldeã tinha-se proposto conquistar Paris, Petrogrado,
Bruxelas e Londres.
Começou por Paris, onde chegou com meia duzia de elegantes
vestidos, sua beleza sem par e seu engenho, porém sem dinheiro.
Nos "cabarets" de Montmartre entoou canções
hungaras e dançou "czardas".
Nesse divertido ambiente appareceu um conde belga, membro do corpo
diplomatico. Não era joven, mas era muito rico, e Maritzka
deu ouvido aos apaixonados accentos do velho pretendente, cujo resultado
foi que poucos mezes depois possuia uma "villa" no Parque
Monceau, carruagens, vestidos, professores de inglez e de italiano
e uma côrte de admiradores.
Passava o inverno em Nice é em Montecarlo; gastava o dinheiro
com prodigalidade e assombrava pelas grandes importancias que punha
nas mesas de jogo.
Chegou um tempo em que o conde belga, que tinha gasto com ella mais
de mil contos na nossa moeda, não poude continuar supportando
esse enorme desperdicio de dinheiro e a abandonou.
Entre os personagens reaes que então visitavam a "Riviera"
figuravam os grandes duques Miguel e Sergio, ambos tios do Tzar.
Os dois se enamoraram della e intentaram conquistar o seu coração.
Ella elegeu a Miguel e em sua companhia se mudou para Petrogrado.
Numa noite se achava no Theatro Imperial, no seu camarote, situado
ao lado do que occupava o Tzar e alguns personagens da sua côrte.
Maritzka - que déra a seu nome esta fórma russa - dirigiu
ao Tzar alguns olhares significativos. Quando sahiu do theatro, estava
quasi certa de que no dia seguinte receberia uma missiva de sua majestade.
Com effeito, no dia seguinte recebeu uma missiva de côrte. Porém
o seu conteudo não era aquelle que ella esperava; não
era um convite, mas sim uma ordem para que se afastasse de Petrogrado.
O gran duque Sergio, rival de Miguel, era governador geral de Moscou,
Maritzka sahiu de Petrogrado e se dirigiu para Moscou.
Sergio alimentava toda a paixão que a joven lhe havia despertado
na "Riviera".
Maritzka acceitou-o, e poucos dias depois de sua chegada a Moscou
encontrava-se installada numa residencia tão esplendida como
a que tinha deixado em Petrogrado.
Quando chegou a Petrogrado a noticia de que Maritzka era a favorita
do gran duque Sergio, Miguel escreveu uma carta ao irmão, pedindo-lhe
que "acabasse de uma vez com o escandalo de um gran dique roubar
a amante de outro", e como não recebesse resposta a esta
carta, foi a Moscou, onde teve uma violenta discussão com seu
irmão.
O Tzar interveiu de novo. Ordenou a Sergio para que se retirasse por
um tempo ao Caucaso e dispuzesse o necessario para que Maritzka abandonasse
immediatamente o territorio russo.
Sergio occultou a Maritzka em Moscou, foi ao Caucaso e voltou poucos
mezes depois; installou de novo a Maritzka em sua residencia e ella
voltou a ser a "gran duqueza morganartica" senhora de Moscou.
A gloria porém, acabou bruscamente. O gran duque Sergio foi
assassinado e Maritzka viu-se obrigada a fugir disfarçada e
levando consigo toda as joias.
Voltou á Hungria, onde comprou uma casa de campo.
Assombrou a Budapest com a ostentação dos seus diamantes;
viveu principescamente por algum tempo e por fim resolveu começar
de novo a vida, organizando um circo.
Era uma "écuyère" extraordinaria e como tal
e como domadora de féras appareceu com o seu circo em varias
cidades.
Rebentou a grande guerra a Maritzka desappareceu do senario publico.
Logo depois da guerra Maritzka apresentou-se em Bruxelas. Foi festejada
e admirada e conseguiu consquistar os corações de alguns
aristocratas que ocupavam altos postos.
O circo tinha sido um desastre financeiro.
Maritzka vendeu os leões e os elephantes, despediu aos artistas
e pouco depois partiu de Bruxellas, e a convite... da policia.
Pouco tempo depois encontrava-se em Berlim, e como alguem lhe perguntasse
a respeito dos seus projectos respondeu:
- Possuo no logar em que nasci uma casa de campo. Retirar-me-ei alli
e, si me fôr possivel, casar-me-ei com algum nobre camponez
de meia edade. Estou farta de ser famosa, temida e admirada. Trocarei
não só o meu nome, como tambem a minha vida...
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|