O ASSASSINIO DE OBREGON
Declarações de José León Toral,
sobre o movel do crime
O
fanatismo religioso do assassinio
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Publicado
na Folha da Manhã, sábado, 04 de agosto de
1928
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Declarações feitas por José Toral, assassino
do general Obregon, e transmittidas agora em communicado telegraphico
especial, fica perfeitamente evidenciado que o movel do seu crime,
preconcebido atravez de um espirito fanatizado, foi exclusiva e principalmente
a religião. Sob o ponto de vista juridico o criminoso terá
por si essa atenuante, será mesmo considerado como um infeliz
inconsciente, quasi um irresponsavel. Dahi não se conclua entretanto,
que lhe seja dada a liberdade, e porque, a temibilidade, condição
importantissima no julgamento perdurará, não justificando,
pois, que se lhe facilite, na volta ao convivio social, uma nova oportunidade
pára praticar um outro crime semelhante. Um manicomio, no muito,
poderá substituir a penitenciaria.
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Como
se tem portado o criminoso |
José Toral conserva absoluta calma e relativa serenidade, continuando
a oppor-se à nomeação de um advogado para a sua
defesa. Procura em duas declarações innocentar quaesquer
outras pessoas, que parecem envolvidas no crime accrescentando que
estava decidido a eliminar o general Obregon, de qualquer forma. Infelizmente,
assim dizem os despachos telegraphicos, deixaram-se envolver nesse
crime, a madre superiora Concepeion Acevedo, o sacerdote José
Gimenez, e um individuo de nome Manuel Trejo, que forneceu o revólver
de que o criminoso se serviu para assassinar o general Obregon.
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As
declarações de José Toral |
Em resposta ao presidente Calles, quando se avistou pessoalmente com
elle, responde José Toral que não havia sido influido
por ninguem:
- Foi um mandato de Christo, - afim de que reinem no Mexico as leis
da sua religião, affirmou elle.
- Imaginava poder escapar, uma vez realizado o crime? Indagou-lhe
a seguir o presidente Calles.
- Eu tinha a convicção, respondeu-lhe Toral, de que
seria morto no local da tragedia, mas, como vê, ainda estou
com vida. Não lhe parece que este facto
prova que o meu acto foi obra do Espirito Santo?
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Atravez
de outras circumstancias |
Ponderando-se essas e outras declarações de José
Toral, circumstancias diversas que as rodeiam o ambiente actual do
Mexico, conclue-se que o general Obregon foi assassinado por um fanatico,
doentio e perigoso.
Da mesma forma que salientamos o facto de ter sido o fanatismo religioso
o movel do crime, não queremos deixar menos claro que a religião
em si não responde por esses actos.
Catholicismo ou protestantismo, positivismo ou isoterismo, esta ou
aquella religião não preconisa atravez dos seus principios
esses meios violentos, sempre contraproducentes, em seus resultados.
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A
religião e os governos |
Infelizmente, a religião unida à politica, tem provado,
atravez da historia dos povos, ser um elemento nefasto à paz
e à harmonia social. Intransigencia por parte dos religiosos,
deste ou daquelle credo; corrupção do governo quando
convictamente unido à religião afim de melhor conseguir
fins e resultados meramente politicos. Arbitrariedades contra os credos
quando lhe são adversos na seita, emfim, uma serie formidavel
de outras tantas desgraças, escreveram, no passado, as paginas
mais angustiosas da humanidade.
Se a religião constitue um dos melhores freios contra os abusos
e excessos do homem, se é verdade que pela sua maioria e preponderancia
em um paiz torna-se mesmo um elemento de cohesão para a nacionalidade,
se lhe são devidos beneficios incalculaveis pelo conforto moral
que leva a cada individuo, não menos se pôde affirmar,
em face dos factos, do passado e do presente, que junta, ou de qualquer
forma ligada à vida oficial de um paiz, degenera não
raro em uma das maiores calamidades que se póde imaginar.
Aos governos, de qualquer nação, incumbe pois separar-se
de uma vez de qualquer credo, aos crentes, respeitar essa resolução,
para o seu bem e felicidade.
No seculo XX, muito distanciado que está do medievalismo é
doloroso, e profundamente impressionante, para o estação
actual da civilização, qualquer lucta religiosa, provocada
que seja por governos ou crentes deve encaminhar os seus passos, pelo
respeito à religião do seu semelhante, pela garantia
de qualquer seita, pela separação absoluta da vida official
do paiz.
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