TRECHOS DO DIÁRIO DE ANNE FRANK
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sábado, 4 de maio de 1985
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Neste texto foi mantida a grafia original
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"Com meu diário, quero dizer que pretendo ir mais adiante;
não posso me imaginar vivendo como minha mãe ou a sra.
Van Daan e todas aquelas mulheres que cumprem suas obrigações
e mais tarde são esquecidas. Eu preciso ter algo mais que um
marido e filhos, algo a que possa me devotar totalmente. Quero continuar
vivendo depois da minha morte..." (20 de junho de 1942)
"Preciso
tornar-me boa através de meu próprio esforço,
sem exemplos e sem bons conselhos. Então, mais tarde, deverei
ser bem mais forte. Quem além de mim lerá estas frases?
A não ser comigo, com quem posso contar? Um sem-número
de amigos foram para um triste fim. Ninguém é poupado,
cada um e todos se juntam na marcha da morte." (20 de outubro
de 1942)
"Devo
ficar pensando sobre todos os que estão morrendo, seja o que
for que esteja fazendo? E se eu quero rir de alguma coisa, deveria
parar imediatamente e sentir-me envergonhada por estar contente?"(20
de novembro de 1943)
"Não
acredito que apenas os homens de projeção, os políticos
e os capitalistas sejam culpados pela guerra. Não, o homem
comum também é... Há uma urgência nas pessoas
em destruir e matar, e até que toda a humanidade, sem exceção,
passe por uma grande mudança, as guerras se sucederão."
(3 de maio de 1944)
"É
realmente inexplicável que eu não tenha deixado de lado
todos os meus ideais, porque eles parecem tão absurdos e impossíveis
de se concretizarem. Mesmo assim eu os conservo, porque ainda acredito
que as pessoas são boas de coração. Simplesmente
não posso edificar minhas esperanças sobre alicerces
de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo gradativamente
se tornando uma selvageria. Escuto o trovão se aproximando,
cada vez mais, o que nos destruirá também; posso sentir
o sofrimento de milhões e ainda assim, penso que tudo irá
se corrigir, que esta crueldade também terminará. Enquanto
isso, preciso adiar meus ideais para quando chegarem os tempos em
que talvez eu seja capaz de alcançá-los." (15 de
julho de 1944)
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