MORRE O ESCRITOR JAMES BALDWIN, QUE PREGAVA PAZ RACIAL NOS EUA
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Publicado
na Jornal, quarta-feira, 02 de dezembro de 1987
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O escritor negro norte-americano James Baldwin morreu na madrugada
de ontem, aos 63 anos, em St. Paul de Vence, na Riviera francesa,
de um câncer no estômago. Originário do bairro
negro do Harlem, em Nova York, Baldwin estava radicado na França
há cerca de vinte anos. Sua obra, embora tivesse no conflito
racial um importante núcleo temático, não se
restringia a esta questão. "Giovanni's Room", um
de seus romances mais conhecidos no Brasil, trata do homossexualismo
e seus personagens são todos brancos. Em 1985, com uma de suas
últimas obras, "Mortes em Atlanta" (ainda sem tradução
no Brasil), o escritor abalou os Estados Unidos ao narrar o massacre
de 28 crianças negras e pobres em Atlanta (sul do país)
num estilo literário próximo ao jornalístico.
Ele influenciou escritores do porte de Truman Capote, Norman Mailer
e Tom Wolfe.
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Morre
o escritor James Baldwin |
Da Reportagem Local
Morreu
na madrugada de ontem, em St. Paul de Vence, na Riviera francesa,
o escritor negro norte-americano James Baldwin, de um câncer
estomacal, aos 63 anos. O escritor, originário do bairro
negro do Harlem, em Nova York, estava radicado na França
há cerca de vinte anos.
Comunicado da morte pela reportagem da Folha, o professor Abdias
Nascimento, 73, presidente da Comissão do Centenário
da Abolição, lamentou a notícia, afirmando
que "a inteligência e particularmente a inteligência
negra está de luto; Baldwin era um grande homem, um homem
sofrido que penetrou a fundo na alma do ser humano negro através
de seus livros". Nascimento contou também que Baldwin
era uma das personalidades que a comunidade negra brasileira esperava
para as discussões sobre o centenário da abolição
da escravatura, a serem realizadas no próximo ano.
A obra de Baldwin, embora tivesse no conflito racial um importante
núcleo temático, não se restringia apenas a
esta questão. "Giovanni's Room", por exemplo, um
de seus romances mais conhecidos no Brasil - e que chegou a ter
aqui uma adaptação teatral de grande sucesso em 1986
- tratava da questão da homossexualidade e seus personagens
eram todos brancos. Em entrevista concedida a Agência Reuter,
em julho deste ano, Baldwin havia declarado que se considerava um
"verdadeiro escritor, um escritor negro americano, mas cujas
obras incluíam mais que a negritude".
Em 1985, com uma de sua últimas obras, "Mortes em Atlanta"
(Stock, 168 págs., ainda sem tradução no Brasil)
o escritor abalou os Estados Unidos, narrando o assassinato de 28
crianças negras e pobres em Atlanta, no sul do país,
num estilo literário próximo ao jornalístico,
bastante peculiar a seus textos - densamente substantivados - que
influenciaram escritores do porte de Truman Capote, Norman Mailer
e Tom Wolfe.
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Infância
e pacifismo |
Filho de um pastor batista, James Baldwin teve uma infância
miserável no Harlem, onde escreveu, aos 12 anos, sua primeira
novela, "Massacre", sobre a Guerra Civil Espanhola. Em seguida,
veio a novela "Cidade Sagrada", narrando o drama dos judeus
de Berlim com a ascensão do nazismo. Mas foi em 1952, no bairro
de Greenwich Village, onde trabalhava como biscateiro, lavando pratos
ou entregando correspondência, que conseguiu publicar o romance
"Go Tell it on the Mountain", vindo a receber reconhecimento
da crítica e uma bolsa de estudos na Europa, onde se radicou.
A partir de então, Baldwin deu sequência a uma obra literária
de caráter marcadamente pacifista, que propunha a harmonia
racial ao modo do pastor protestante Martin Luther King, com livros
que logo se celebrizaram, como "Another Country" ("Numa
Terra Estranha") "The Fire Next Time" ("Da Próxima
Vez, o Fogo").
Foram poucos os textos de Baldwin editados no Brasil. "Giovanni",
publicado pela Civilização Brasileira em 1965, encabeçou
a modesta lista que teve continuidade apenas em 1984, com a edição
de "Marcas da Vida", pela Editora Nova Fronteira. Todas
as edições encontraram-se esgotadas, Karin Schindler,
que há quatro anos negociava os direitos dos livros de Baldwin
aqui, revelou que se "considerava frustrada com o fraco desempenho
do escritor em nosso mercado".
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