COMO SURGIU A LAGOA TAFUNUNU


Publicado na Folhinha, sábado, 11 de abril de 1998

Próxima à aldeia kuikuru, há uma lagoa muito grande, chamada Tafununu. Contam os índios da tribo que a lagoa é tão grande, funda e rica que parece um mar.
Nem sempre foi assim. Há muito tempo, quando os índios kuikurus ainda não existiam, no lugar da lagoa, só havia a mata e uma árvore que se destacava entre as demais, por ser muito alta e ter um tronco bem grosso.
Um índio que pertencia a uma tribo que não existe mais passou perto da árvore e ouviu um barulho parecido com o de um peixe se mexendo na água. Ele achou estranho, porque não havia sinal de rio, riacho ou lagoa nas redondezas. Assustado, começou a procurar de onde vinha o barulho.
De repente, o índio encontrou a árvore gigantesca. Ao chegar perto dela, ele percebeu que o barulho do peixe vinha de dentro da árvore.
O índio percebeu que aos pés da árvore havia uma tampa de pedra grande. Fez força e conseguiu mover a tampa.
Para sua surpresa, lá dentro havia tanta água que dava para encher um rio inteiro.
O índio continuou observando e viu aparecer todos os tipos de peixes: matrinxãs, tucuranés, curimatãs, tambaquis, pacus e milhares de outras espécies.
O índio ficou maravilhado com tanta riqueza e tirou vários peixes da árvore.
Ao voltar à aldeia, carregado de peixes, os outros índios quiseram saber onde ele havia pescado tantos peixes. E, para admiração e riso de todos, ele disse que foi no mato mesmo. Ninguém acreditou.
No dia seguinte, o índio foi lá e pegou mais peixes.
O cunhado desse índio também quis ir até a árvore e perguntou a sua irmã _casada com o índio que havia encontrado a tal árvore_ como chegar ao local.
_ O meu marido foi lá na mata e ouviu o barulho do peixe que mexe dentro da árvore grande. Lá tem peixe, disse ela. Mas alertou:
_ Cuidado! Se a árvore estourar, vai sair tanta água que a aldeia vai inundar, e a gente vai morrer.
O índio pegou a flecha e foi embora, seguindo as orientações da irmã.
Ao chegar à árvore, ele tirou a tampa, e milhares de peixes apareceram. Entre eles, o kurikuru, um peixe grande, bicudo e forte, que nunca ninguém vira.
Admirado com o bicho, o índio pegou sua flecha e atirou bem nas costas do peixe.
Desesperado de dor, o peixe começou a nadar por dentro da árvore. Com a flecha nas costas, o peixe ia dos galhos às raízes, passando por todo o interior da árvore.
Quando o peixe kurikuru parou de nadar, porque tinha ficado muito cansado, a árvore estourou e jorrou água para todos os lados. A mata e a aldeia foram inundadas, e os índios e animais que viviam ali morreram afogados.
Quando a água que saiu da árvore acalmou, nasceu a lagoa Tafununu. Nela, os kuikurus pescam e tomam banho todas as manhãs.

Essa lenda foi contada pelo cacique Afukaka Kuikuru, com adaptação de Mirna Feitoza.


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