Antes
de existirem índios maués, havia o índio Sucuri-Ténon,
que tinha um filho esperto: Sucuri-Pacu. O pai o proibiu de visitar
os tios feiticeiros, os peixes Jeju e Traíra. O menino desobedeceu
e foi à casa dos tios, pois ouviu a conversa de que Jeju
tinha inventado a primeira água.
A tia mostrou ao menino uma pequena poça, que parecia um
pedaço de espelho vindo do céu, em que sempre caíam
gotas de água.
O menino achou aquilo muito pequeno. A tia não gostou. Fez
um feitiço, e Sucuri-Pacu ficou tonto, com o estômago
pesado e falta de ar.
O
pai desconfiou que Sucuri-Pacu estava enfeitiçado e mandou
o filho procurar remédio. O menino voltou à casa dos
tios, que lhe deram um remédio falso. A barriga dele inchou
tanto, que nem adiantava passar maracá (chocalho mágico)
para curar. Mas, quando o tio passou mais uma vez o maracá,
a barriga estourou, e escorreu muita água.
Os tios chamaram os animais para ver. O sapo, quando viu a água,
disse que agora podia tomar banho e saiu saltando, aos gritos. A
garça e o maguari voaram e ficaram sobre os paus, espiando.
O morcego e a andorinha só roçaram na água.
Os tios pediram ao pai de Sucuri-Pacu para abrir caminhos na água.
Mas ele não podia olhar para trás, para não
fazer caminhos tortos. Sucuri-Ténon desobedeceu, olhando
para trás e para os lados. É por isso que os rios
são tortos e a mata é cheia de igapós (trechos
da floresta que ficam cheios de água depois das enchentes
dos rios).
Esse mito foi recolhido pelo antropólogo Nunes Pereira.
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