A PRIMEIRA ÁGUA


Publicado na Folhinha, sábado, 7 de junho de 1997

Antes de existirem índios maués, havia o índio Sucuri-Ténon, que tinha um filho esperto: Sucuri-Pacu. O pai o proibiu de visitar os tios feiticeiros, os peixes Jeju e Traíra. O menino desobedeceu e foi à casa dos tios, pois ouviu a conversa de que Jeju tinha inventado a primeira água.
A tia mostrou ao menino uma pequena poça, que parecia um pedaço de espelho vindo do céu, em que sempre caíam gotas de água.
O menino achou aquilo muito pequeno. A tia não gostou. Fez um feitiço, e Sucuri-Pacu ficou tonto, com o estômago pesado e falta de ar.
O pai desconfiou que Sucuri-Pacu estava enfeitiçado e mandou o filho procurar remédio. O menino voltou à casa dos tios, que lhe deram um remédio falso. A barriga dele inchou tanto, que nem adiantava passar maracá (chocalho mágico) para curar. Mas, quando o tio passou mais uma vez o maracá, a barriga estourou, e escorreu muita água.
Os tios chamaram os animais para ver. O sapo, quando viu a água, disse que agora podia tomar banho e saiu saltando, aos gritos. A garça e o maguari voaram e ficaram sobre os paus, espiando. O morcego e a andorinha só roçaram na água.
Os tios pediram ao pai de Sucuri-Pacu para abrir caminhos na água. Mas ele não podia olhar para trás, para não fazer caminhos tortos. Sucuri-Ténon desobedeceu, olhando para trás e para os lados. É por isso que os rios são tortos e a mata é cheia de igapós (trechos da floresta que ficam cheios de água depois das enchentes dos rios).

Esse mito foi recolhido pelo antropólogo Nunes Pereira.


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