1980: A AVENIDA PAULISTA É O NOVO CENTRO DE SÃO
PAULO
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Publicado
na Folha de S. Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 1972
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Conheça a avenida Paulista, como ela será dentro de
oito anos isto é, em 1980. O centro bancário, comercial
e de serviços da Capital, hoje afogado pelas estreitas ruas
que nascem na praça da Sé, estará situado no
espigão coroado por essa grande avenida.
Sem barulho de motores e buzinas, congestionamentos, e dificuldades
para estacionar, a tendencia de deslocamento do interesse comercial
- diagnosticado em 1970 - se concretizou na instalação
de agencias bancárias, consultórios técnicos
e médicos, grandes lojas de departamentos, garagens automáticas
e restaurantes.
Dois anos depois de notada a transladação do Centro
da Capital, em 1972, os mesmos problemas que impedem o crescimento
na área da Sé se fazem notar e por isso os tecnicos
se munem de soluções audaciosas para enfrenta-lo:
metrô, vias expressas subterraneas, alargamento da via superficial.
Essas soluções audaciosas terão o inicio da
execução marcado hoje, mas nesta reportagem o leitor
terá uma visão da Paulista em 1980.
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Metrô
e carros a 100 km/h |
A avenida Paulista, 1980: a velocidade dos veiculos nas seis pistas
subterrâneas (velocidade média: 100 km/hora) e a passagem
do ramal do Metrô nessa via rebaixada não provocou
congestionamentos e, por isso, há pouco barulho de buzinas
na superficie (o único som é o distante ronco dos
motores). Na via de superficie, jovens de roupas coloridas conversam
diante do Center-3, entre apressados pedestres que se dirigem ao
maior centro comercial de São Paulo.
As pessoas aparentam menos sintomas de preocupações:
o ramal Paulista, que compõe a linha Sudeste-Sudoeste do
Metrô, é percorrido em pouco tempo, fazendo a ligação
entre o Paraiso e Vila Madalena que tem um dos pontos principais
na Consolação.
Na avenida, o movimento de trânsito é mínimo,
não há problemas de estacionamento (a alameda Santos
e São Carlos do Pinhal) recebem a grande maioria dos veiculos,
com uma rede de estacionamentos construida recentemente), o pedestre
pode se movimentar tranquilamente em toda a sua extensão.
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O
METRÔ |
Para as autoridades responsáveis pelo transito da cidade,
o Metrô possibilitou a transformação da avenida
Paulista num centro comercial planejado. Hoje, os ônibus não
atrapalham o tráfego como há cinco anos, por exemplo.
Os poucos guardas de trânsito têm o trabalho de apenas
orientar motoristas para os estacionamentos em vias transversais
(a sinalização é toda automática).
Na via rebaixada, a linha do Metrô cumpre as finalidades de
seu planejamento: iniciando no cruzamento do viaduto Santa Generosa
com a rua Vergueiro, ela é uma linha auxiliar que cruza a
linha Sudeste-Sudoeste e termina em Vila Madalena.
A sua importância é tanta que, após a sua inauguração
em 1977, a Companhia do Metrô pôde construir o anel
metroviário central, que se inicia na praça da República
e segue pelo Anhangabaú, praça Clóvis, parque
D. Pedro II, mercado, estação da Luz, Santa Ifigênia
e novamente praça da República.
Com a implantação do Metrô na Consolação,
a linha Sudeste-Sudoeste, também é ligação
entre a praça Roosevelt e a praça Clóvis, onde
há a estação da linha Leste-Oeste. Oito anos
atrás, a Prefeitura ainda temia esse investimento, que foi
feito somente porque os técnicos acreditaram na previsão
de que a Avenida Paulista, em 1980, seria o centro da cidade (o
que foi confirmado).
Assim, os investimentos de sucederam: hoje o Metrô chega até
a rua Augusta, depois da instalação de quatro quilometros
de trilhos e da construção de mais quatro estações:
na praça Oswaldo Cruz, nas proximidades da Brigadeiro, no
parque Siqueira Campos e na rua Augusta.
Por conta disso, nem a estação Paraiso exigiu novos
investimentos: com os anteriores, a estação ficou
quase pronta para operar na linha Norte-Sul. Um trabalho que lembra
as facilidades para a construção do próprio
Ramal Paulista: há oito anos, a via rebaixada deixou de ser
feita apressadamente para dar lugar ao túnel do Metrô,
planejado em vista das próprias obras da Paulista.
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O
PEDESTRE |
Mesmo sabendo que sob os seus pés corre todo um complexo
rodo-metroviário, o pedestre da avenida Paulista leva uma
vida aparentemente tranquila, bastante diferente de anos passados,
quando tinha de enfrentar o pesado trânsito de ônibus
e constantes congestionamentos na área.
Hoje, os homens de negócios abandonaram as transações
na ainda movimentada rua 15 de Novembro, que perdeu para a Paulista
as suas principais agências bancárias. O colorido das
roupas dos jovens, antes predominante na rua Augusta, transferiu-se
agora para a nova avenida, de importância turistica idêntica
a da Augusta na década passada.
Antes conhecida e famosa por ser uma avenida de residências
aristocráticas, a Paulista hoje oferece ao pedestre grandes
edifícios, bancos, lojas e escritórios comerciais.
Os seus cinemas, que há cinco anos supriam o mercado com
facilidade, já são considerados escassos - apesar
de atrairem turistas por serem dos mais modernos do país.
Para o pedestre mais tradicional, passear na avenida é quase
uma viagem de recordações ao passado: como à
década de 30, onde se realizavam as batalhas de confetes,
desfiles de fantasias e corsos de calhambeques nos carnavais da
cidade.
As velhas mansões, que há alguns anos começaram
a ser demolidas para dar lugar aos edifícios das grandes
companhias imobiliárias, desapareceram por completo ou estão
fechadas a espera de compradores.
Mesmo assim, o paulistano hoje - depois de quase um século
namorando a sua avenida, que foi inaugurada a 8 de dezembro de 1891
- descobre na Paulista um boulevard ameno, enquanto na sua via subterrânea
o complexo rodometroviário dá vazão ao tráfego
livre entre a Via Anhanguera, no extremo Oeste, à Via Anchieta
e à rodovia dos Imigrantes, no extremo Sul.
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1970:
o futuro era um "talvez" |
Até dois anos antes de 1972, o Metrô na avenida Paulista
era considerado uma meta secundária, um "talvez"
no planejamento geral da cidade. Naquele ano, a situação
mudou: em setembro, depois das comemorações do Sesquicentenário
da Independência, o então prefeito Figueiredo Ferraz
determinou a execução da "Nova avenida Paulista",
que funcionaria como ponto central de uma das principais zonas de
adensamento habitacional e de serviços da capital.
Na época, segundo o engenheiro Benjamin Adiron Ribeiro, urbanista
diretor do COGEP, "Coordenadoria do Planejamemto da Prefeitura",
a linha do Metrô que corre hoje na avenida Paulista, ligando
a zona sul da cidade com a zona oeste, conectando na rua da Consolação
com vários outros entroncamentos, passara a ser a primeira
prioridade.
"A mesma situação, segundo ele, provocava a grande
reforma imposta àquela avenida no sentido de diversificar
a sua utilidade no sentido de: o trafego da superficie, servir única
e exclusivamente ao atendimento do público em busca dos serviços
implantados naquela via e os que passariam a se utilizar da via
arterial, rebaixada, por onde passariam também os dois carros
do Metrô, no sentido de buscar por ali, uma via de ligação
inter-bairros mais rápida e eficiente.
Pouco antes de 1972, a zona central da capital paulista já
conhecia o fenômeno do êxodo dos escritórios,
agências bancárias e consultórios dos profissionais
liberais que, em busca de melhores condições de funcionamento
buscaram a avenida Paulista, para centro de suas atividades. Ali,
ao longo de suas transversais e paralelas, nas garagens de seus
edifícios, era fácil estacionar, tanto quanto, atingir
a região.
Acontece que com o correr dos anos, transferiram-se para a avenida
Paulista, os mesmos problemas que provocaram o êxodo da area
central da cidade: o transito na avenida e nas suas proximidades
começou a ficar mais e mais congestionado, e o acesso aos
edificios da Paulista foi ficando cada vez mais dificil. Os empresários
ali locados começaram então a se preocupar em buscar
locais que oferecessem melhores condições operacionais.
Os imoveis da avenida Faria Lima então, começaram
ser procurados, pois ela era, na Zona Oeste, a que mais se adequava
para o tipo de adensamento procurado.
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E
A PAULISTA? |
Nesta altura, chegamos ao ano em pauta, 1972, a grande reforma se
impôs. A filosofia que norteou o planejamento da Nova Paulista
partiu do principio de não deixar acontecer na Avenida o mesmo
que havia acontecido na área central da cidade de São
Paulo. "De início, segundo o urbanista Adiron Ribeiro,
a Paulista seria uma espécie de centro especializado de atividades
terciárias, adensando na área escritórios técnicos,
bancos e consultórios, caracteristica que vinha se desenvolvendo,
devido às grandes obras do metrô e outras na região
bancária de São Paulo (ruas 15 de novembro, Boa Vista
e outras), que acrescidas com o dificil acesso àquelas ruas
e a dificuldade de estacionar, prejudicavam o seu bom funcionamento.
"Considerou-se então - continua - que a maioria dos profissionais
liberais, e proprietários de empresas, residiam na Zona Oeste
- Sul da cidade, e a grande maioria de seus clientes também.
Portanto, a Paulista foi considerada o melhor e mais cômodo
local para suas operações. Acontece que em muito curto
espaço de tempo os problemas do Centro transferiram-se para
a Paulista, ainda que em tempo hábil de reparação.
Idealizou-se então uma Paulista, mais utilitária. Uma
vez que ela já praticamente se caracteriza como zona de adensamento
populacional e de concentração de serviços. O
grande problema seria equacionar os mesmos inconvenientes que provocaram
a fuga do centro.
O planejamento da Nova Paulista sofreu então algumas alterações.
No planejamento inicial, as características tradicionais da
Avenida seriam conservadas: manter-se-iam os largos passeios para
pedestres: os edificios teriam seus recuos ajardinados, e esperava-se
um transito intenso mas não congestionado.
Mas chegou-se à conclusão de que o transporte da superficie
na época não teria a capacidade para atender à
demanda, dia a dia maior na região. Foi quando se estabeleceu
o rebaixamento, destinado à desviar o fluxo que procurava a
ligação inter-bairros, que desviado para as seis faixas
da via rebaixada, se acrescentou aos usuários do Metrô
que diminuiram o número de veiculos maiores trafegando pela
superficie da Paulista. Na via superficial o acesso aos edificios
ficou facilitado, assim como a utilização das transversais
e paralelas como a alameda Santos e São Carlos do Pinhal, que
contam hoje, com 1980 serviços de estacionamento em garagens
de alto nivel, conclui o urbanista Benjamim Adiron Ribeiro.
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