5H58: BALBINO É O PRIMEIRO NO JABAQUARA
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Publicado
na Folha de S. Paulo, Sabado, 27 de setembro de 1975
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Por uma porta entreaberta do acesso principal da estação
Jabaquara, quase sem ver visto, Balbino José dos Santos colocou
o bilhete no bloqueio eletrônico e passou pelo mezanino, em
direção à plataforma.
O chefe da estação acabara de checar o funcionamento
dos bloqueios, e impediu Balbino de descer as escadas rolantes em
direção à plataforma de embarque. Ele foi o primeiro
passageiro a entrar na estação ela ainda estava oficialmente
fechada, pois não eram seis horas, a ultrapassar os bloqueios
e a entrar numa composição.
"Desculpe, mas o senhor não pode descer ainda. A estação
está fechada", explicou o chefe da Jabaquara.
"É que eu já coloquei o bilhete magnético
no bloqueio".
"Onde o senhor o comprou? As bilheterias ainda estão fechadas".
"Tomei um ônibus da CMTC em Vila Santa Catarina e comprei
o bilhete de integração".
"Então, por favor, aguarde a abertura da estação
ao lado de minha cabine" (uma espécie de sala no meio
do mezanino da estação, cuja vista domina as entradas,
a bilheteria e os bloqueios).
Balbino José dos Santos mora há 14 anos em Vila Santa
Catarina, que fica ao sul do Jabaquara e trabalha no extremo Norte
da cidade, no bairro do Tremembé, já faz quase dois
anos.
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Entusiasmo |
Cansado de se levantar cedo para entrar às sete horas no serviço,
Balbino se deixou levar pelo entusiasmo e furou esquema de segurança
da estação Jabaquara, antes de sua abertura às
seis horas.
"Já havia usado o Metrô. Ia diariamente até
a Liberdade, tomava um ônibus até o Jardim da Luz e em
seguida outro até o Tremembé. Tinha que acordar às
cinco horas da manhã".
Balbino explicou ainda que na volta do serviço o tempo perdido
era maior.
"A partir de hoje vou economizar um cruzeiro por dia, ganhar
uma hora de sono de manhã e ter pelo menos duas horas livres
à tarde, chegando mais cedo em casa".
Ao entrar na primeira composição que parou às
5h58 no Jabaquara, Balbino passou a ser o primeiro passageiro a percorrer
a linha Norte-Sul, durante sua abertura oficial ao público,
desde o terminal Sul (Jabaquara) até o terminal Norte (Santana).
Apenas 86 pessoas embarcaram na primeira composição
depois que as bilheterias foram abertas.
Muitos foram obrigados a esperar os sete minutos até a chegada
do próximo trem.
Entre os que embarcaram estava o senhor Luís Bravo, de 55 anos,
que mora em Vila Guarani, próxima à estação
Jabaquara, e trabalha no Parque Aeronáutico de Santana. Há
20 anos, Luís acorda cedo para entrar no serviço às
sete horas, enfrentando congestionamentos dentro de um ônibus
lento e lotado.
"Já conheço o Metrô até a Liberdade.
Hoje pela primeira vez vou direto com ele trabalhar em Santana. Agora
posso me levantar às seis horas, pois sei que 40 minutos depois
de entrar no trem estarei em Santana."
Muitas pessoas estavam eufóricas, na primeira viagem de ontem,
em poder ir trabalhar de Metrô. Como Victor da Silva, que mora
em Cidade Leonor e toma um ônibus de integração
para ir ao Jabaquara.
"Com a mesma passagem, pagando Cr$ 1,50 utilizo o Metrô
para ir a Santana. De lá tomo outro ônibus até
meu serviço no Mandaqui".
Victor da Silva explica que antes era obrigado a utilizar três
ônibus e perder quase quatro horas no seu trajeto obrigatório.
Ele sorri ao dizer que vai economizar um cruzeiro por dia, ganhar
mais horas de lazer e viajar confortavelmente.
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Passeio |
Alguns dos 36 passageiros, no entanto, não tinham a obrigação
de levantar cedo, como o casal Maria Laporto e Ferrer Angelo Giannini,
ambos com mais de 60 anos.
"Moramos sozinhos na rua Rafael de Barros, no Paraiso, mas temos
duas filhas casadas e oito netos. Geralmente acordamos cedo, mas hoje
pulamos da cama às cinco horas para participar da inauguração
do Metrô."
Os dois já conheciam o sistema metroviário, mas queriam
ser um dos primeiros a chegar a Santana, passando sob o centro da
cidade.
"Tomamos a primeira composição na estação
Paraiso, para ir até Santana. Vamos dar uma volta pelo bairro
e retornar de Metrô até a estação São
Bento. Dizem que é muito bonita. E fazer compras no centro."
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5h:
Cláudio é o primeiro em Santana |
Cláudio Doce Alves tem um problema na vida: acordar cedo. Nem
o mais potente despertador faz com que ele deixe a cama. Solteiro,
dono de uma charutaria na rua do Seminário, Cláudio
geralmente chega ao trabalho depois de 9 horas. Mas ontem ele acordou
cedo. Às 5 horas da madrugada, apesar da temperatura de 8 graus,
já estava na estação Santana, certo de que seria
o primeiro passageiro a tomar o primeiro trem da ligação.
Norte-Sul, que partiu às 6h05.
"Como comerciante, nos últimos dias esperei com ansiedade
da linha, pois acho que ela trará bons lucros."
Cláudio, comerciante no centro, morador em Santana, também
via o outro lado da questão:
"Como morador do bairro acho que o Metrô deveria ter sido
construído há mais tempo".
Às 5h40, a fila de uma das entradas de Santana era formada
por umas vinte pessoas. O primeiro da fila era Cláudio. Pouco
depois surgiu Hilário Canali, um operário de 66 anos,
que mora em Chora Menino. Para fazer a viagem até seu trabalho,
em Vila Mariana, ele precisará tomar um ônibus e 15 minutos
depois chegar à estação. Como Cláudio,
o velho Hilário estava feliz:
"Agora vou poder dormir pelo menos mais quarenta minutos".
Outro operário, Jerônimo Olinto Pereira, 70 anos, mecânico
de uma fábrica de transformadores do Jardim Santa Catarina,
chegou a seguir. De sua casa no Jardim Monte Carmelo, em Guarulhos,
ele demora cerca de 50 minutos antes de descer em Santana e tomar
o Metrô.
"Vale a pena. Antes eu precisava de três conduções.
Agora basta um ônibus e o Metrô. Antes eu acordava às
3 da madrugada. E muitas vezes só dormia quatro ou cinco horas."
O quarto da fila é um tenente da PM, 43 anos, que enfrentou
a madrugada, com suas três filhas. O tenente Albani Ársega
trouxe as meninas Elaine, Evelin e Eleonai e preparou cuidadosamente
na sala, para não acordar seu filho caçula, de um ano.
Depois acendeu a luz do quarto das meninas e elas estavam à
sua espera, acordadas e dispostas a entrar para a história,
como o pai explicou-lhes a semana inteira.
Na outra entrada da estação Santana também havia
uma fila. A primeira passageira era Josefa Maria da Conceição,
funcionária municipal, nascida no Rio Grande do Norte, moradora
em São Paulo desde 1932. Ontem era sua primeira viagem de Metrô.
"E talvez seja a última. segunda-feira entro de licença
prêmio e não pretendo voltar a trabalhar".
Precisamente às 6 horas os guardas das duas entradas convidaram
os passageiros a entrar. O trem partiu com uma média de dez
passageiros por vagão, mas esse número chegou quase
a dobrar antes das estações da Luz e São Bento.
Curiosamente, o sexto e último vagão teve apenas dois
passageiros em todo o percurso. Um deles era Ana Maria Santos Gabriel,
de 23 anos, nutricionista do sanatório Jabaquara.
"Eu moro em Santana, a 300 metros da estação. Esta
não é a minha primeira viagem e sempre escolho o último
vagão porque ele vai quase vazio".
O coronel da reserva da PM, Antônio Sampaio, de 61 anos, hoje
procurador industrial, foi o único passageiro que não
dispensou um autógrafo do operador do trem, em Santana. Ele
mora no Jardim São Paulo, a 1,5 km da estação.
"Viajei no último trenzinho "Maria Fumaça".
Logo não poderia deixar de conhecer o Metrô".
Outro passageiro que só fez o percurso para conhecer a obra
é o engenheiro Nicola Terzi, de 33 anos, que trabalha numa
das empreiteiras da Companhia do Metropolitano, mas em outra área.
"Deixei meu automóvel estacionado em Santana. Não
fiz os percursos anteriores, reduzidos. Esperava a oportunidade para
conhecer a linha completa. Trata-se de uma bela obra."
O operador que deu seu autógrafo ao coronel Sampaio não
conduziu o trem pelo percurso todo: foi substituido uma estação
antes de Jabaquara, em Conceição. É Rômulo
Garcia Moreno Valle, nascido em Santa Catarina há 21 anos.
Não houve um motivo especial para que Rômulo inaugurasse
a linha Norte-Sul:
"Nós temos uma escala pronta para o ano todo e coincidiu
que no dia 26 eu deveria trabalhar."
Rômulo, solteiro, mora em São Bernardo do Campo e está
como operador de trem desde 8 de novembro de 1974:
"Claro que fiquei satisfeito de trabalhar hoje. Foi tudo normal
mantive uma velocidade em torno de 50 km/hora. |
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