A CONQUISTA DA ESTRATOSPHERA
Inicia-se,
agora, uma série de ascensões destinadas a augmentar
os conhecimentos scientificos e a possibilitar a aeronavegação
regular a grandes alturas
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Publicado
na Folha da Noite, segunda-feira, 30 de Julho de 1934
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Antes de 1896, nem sequer se suppunha a possibilidade da existencia
da estratosphera. Pensava-se, até por aquella época,
que a atmosphera - esse immenso oceano aereo que circunda a terra
- fosse uma coisa só desde o nivel do mar até ás
mais tremendas altitudes, com pequenas variações de
temperatura e de densidade.
Aconteceu, porém, precisamente em 1896, que o meteorologista
francez, Teisserenc de Bort, soltou um pequeno balão sem tripulantes,
dotado de alguns instrumentos automaticos, capazes de registar os
phenomenos que porventura fosse encontrando, a medida que subia. Quando
o balão voltou á terra e os registros foram lidos, houve
um movimento de assombro. Mal se podia crêr no que haviam registado.
Aquelles pequenos traços, diagrammados da maneira mais insolita
e apparentemente mais antiscientifica possivel, contavam uma historia
mais extraordinaria, em relação á atmosphera,
do que as revelações feitas por Marco Polo ao regressar
das suas expedições pelo antigo imperio de Genghis Khan.
Contavam que, a partir de determinadas alturas, não havia mais
nuvens,nem tempestades, nem sombras, nem coisa alguma disso que vulgarmente
denominamos "tempo".
Mais tarde, aquelle scientista dividiu o espaço aereo em duas
regiões: - a troposphera, que é a que fica a partir
da terra até umas dez milhas de altura; e a estratosphera,
dahi para cima.
A's experiencias de Teisserenc de Bort, seguiram-se outras, todas
muito interessantes e reveladoras de coisas fantasticas. Em 1931,
o professor Augusto Piccard, em meio á descrença de
toda gente, com um rosto ingenuo de homem de gabinete fantasiado de
criança, conseguiu ir a uma altura até então
desconhecida, registando phenomenos de alto valor scientifico para
o estudo do universo. Depois delle, já com bases puramente
scientificas, a Russia levou a effeito uma ascensão, que acabou
tragicamente; os Estados Unidos, por obra do tenente Settle, realizaram
outra, com exito; agora, nova ascensão se levou a cabo nos
Estados Unidos, por obra conjugada da aviação naval
a da Sociedade Nacional de Geographia dali. Para breves dias, anuncia-se
outra, do proprio professor Piccard que, a realizar-se o seu projecto,
penetrará pela terceira vez na estratosphera.
Outras, ainda, estão sendo preparadas, algumas em collaboração
com as fabricas de aeroplanos e com os departamentos aeronauticos
officiaes, afim de ser investigada a possibilidade de se construirem
apparelhos de vôo e se estabelecerem linhas aereas commerciaes
regulares cujo trajecto se pretende fazer passar pela estratosphera,
no intuito de evitar os inconvenientes dos vôos a menos de dez
milhas de altura.
Estamos, como se vê, em vesperas de grandes revelações
e não será de admirar se, dentro de pouco tempo, tudo
o que já se fez tiver de ser inteiramente revisado, pelos erros
que têm sido até agora acceitos como bases scientificas.
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Os
aeronaves foram forçados a descer em paraquedas |
WASHINGTON, 29 - O balão em que o major Kepner, o piloto Anderson
e o observador Stevens realizaram a ascensão á estratosphera,
desceu ao norte de Holdrege, no Estado de Nebraska.
Os tres aeronautas desceram em paraquedas da altura de 1.500 metros.
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