A TORMENTOSA ANGUSTIA DA VELOCIDADE
Como
que allucinado em pós de uma miragem que cada vez mais delle
se afasta, o homem moderno se debate á procura da velocidade
absoluta
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Publicado
na Folha da Noite, quinta-feira, 12 de fevereiro de 1931
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Neste texto foi mantida a grafia original
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O seculo vinte nasceu sob um signo de febre e traz, em todas as suas
actividades, um anathema de insatisfação.
Já nos seus albores, quando os motores a explosão começaram
a ser aperfeiçoados e quanto a atmosphera passou a ser estudada
como factor embaraçante da velocidade, a machina entrou para
uma phase de angustiosa evolução.
Encarada de um ponto de vista exterior, accidental, essa evolução
é uma maravilha; considerada, porém, no seu amago, nos
estimulos primeiros que, dentro da eterna insatisfação
da alma humana, a tornam possivel, essa mesma evolução
é um tremendo supplicio.
Mal o homem, com as suas congeries de aço e os seus explosivos
requintados - que extrae do seio da terra e transforma á luz
da sua sabedoria scientifica - consegue uma velocidade apreciavel,
logo a sua meta se afasta, fazendo com que a criatura humana corra,
como doida, atrás de outra miragem, de outra velocidade mais
vertiginosa, mais apparentemente inattingivel.
A principio, a locomoção de vehiculos não passava
de sessenta kilometros horarios: dahi, a média foi subindo,
até que, já agora, temos, para os aeroplanos, a velocidade
momentanea de setecentos e dezoito kilometros; para os automoveis
de quatrocentos; e, para os trens, pouco mais de cem. A via férrea,
entretanto, parece que não se contenta - e faz nisso muito
bem - com a retaguarda em que se encontra; e já se está
estudando um trem electrico que, montado em rolamentos, ao envés
de o ser em rodas communs, possa attingir a velocidade de quinhentos
kilometros horarios.
O cliché que estampamos com estas linhas é uma visão
de artista do referido trem. E' impossivel prever o exito dessa tentativa,
como tambem é inutil procurar indagar do ponto a que chegaremos,
em materia de velocidade, dentro de uns poucos annos. E' bastante
que se diga que, quando attingirmos a velocidade de mil kilometros
horarios, a criatura humana se mostrará ainda insatisfeita,
porque o seu destino é correr - correr alucinadamente, não
importa em que direcção, contanto que o seu corpo consiga
locomover-se com uma rapidez cada vez mais approximada da do seu pensamento.
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