Computador chega à redação da "Folha"


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 4 de setembro de 1983

Neste texto foi mantida a grafia original

Há algumas semanas, uma pequena nota no Painel da "Folha" vem pedindo desculpas aos leitores pelos eventuais erros gráficos que têm aparecido no jornal. Mas eles se justificam. São resultado da fase inicial de implantação, entre nós pioneira, com similar apenas nos grandes jornais dos Estados Unidos, Europa e Japão: um sistema de terminais de vídeo nas redações e oficinas, responsável pela produção e edição de jornais, e que determinará, a curto prazo, a própria sobrevivência das empresas jornalísticas, na busca de um produto cada vez mais ágil, moderno e inteligente.

Com apenas dois meses de funcionamento experimental, 52 por cento das matérias publicadas pela "Folha" e 50 por cento das matérias publicadas pela "Folha da Tarde" são produzidas e editadas diretamente pelo novo sistema. A totalidade das reportagens escritas pelos jornalistas da Agência Folhas, assim como artigos de colaboradores e críticos, é transmitida diretamente nos terminais de computadores.

Dos suplementos da "Folha" a "Folhinha" e o "Folhetim" já são produzidos pelo sistema, assim como 20 por cento do suplemento "Informática". A curto prazo, os suplementos "Mulher" e "Turismo" estarão integrados ao novo método de produção e edição. Em dois meses, as sucursais da "Folha" já estarão operando com terminais e remetendo, pelo telefone, os impulsos que serão captados diretamente pela central de computadores e distribuídos a todos os jornais da empresa. Esta semana, em fase experimental, a sucursal de Brasília já estará integrada aos computadores. Além da "Folha" e da "Folha da Tarde", os jornais "Notícias Populares" e "Cidade de Santos" estão sendo gradativamente confeccionados através dos terminais de vídeo.

Responsável pela implantação dos terminais de vídeo na redação da "Folha", o jornalista Caio Túlio Costa, um de seus dois secretários de redação, afirma que o novo sistema "é inevitável no processo de desenvolvimento industrial jornalístico e vai mudar os hábitos que os jornalistas têm até hoje em relação ao papel e à máquina de escrever, na medida em que o computador introduz facilidades na escrita, além de permitir ao editor um trabalho muito mais seguro. Ao mesmo tempo, o sistema eliminará uma importante fase no processo industrial de produção do jornal, como por exemplo a perfuração das fitas (que eram enviadas às fotocomponedoras) e a revisão ortográfica, já que os impulsos são dados diretamente dos terminais de redação ao computador de fotocomposição, que produz - sem intermediários - as matérias a serem colocadas nas páginas".

"Essa evolução tecnológica - diz Caio Túlio - é inevitável em função da sobrevivência das empresas jornalísticas, pois qualquer uma delas, para poder continuar, terá de dar esse passo. E a "Folha" o faz agora e o fez também na época da transformação da impressão tipográfica para "off-set" e, alguns anos depois, da composição a quente (por meio de linotipos) para a fotocomposição. Neste momento, ela dá mais um passo, agora em direção a um processo que começa, mas não tem fim. Se o jornal quer fazer, cada dia mais, um bom produto, essa evolução não pode ter fim. Outro fator que pode explicar esse avanço, além do inevitável progresso tecnológico, é a busca de um jornal melhor. Nesse sentido, o computador dá uma segurança maior de trabalho e permite que o produto seja bem feito. A "Folha" está cada vez mais empenhada em obter um jornal dinâmico e que vá muito além da simples notícia, interpretando, analisando e opinando."

O secretário de redação da "Folha" destaca que ainda que, ao lado do avanço tecnológico trazido pelos terminais de vídeo, "há um investimento sério no material humano, na reportagem, na busca de melhores profissionais. Acho que já deu para sentir uma mudança radical de rumos na redação, já que sem bons profissionais é impossível produzir um bom jornal". Nessa medida, Caio Túlio observa que o sistema "elimina totalmente, por tornar-se desnecessária, a revisão ortográfica, da maneira como a entendemos atualmente. Não estou dizendo que não haverá revisão no jornal, mas que ela será feita pelos próprios repórteres e redatores, na busca, também inexorável, do texto final. E num futuro não muito distante, a tendência, no jornalismo, é o repórter captar, redigir e até mesmo editar sua matéria".

O engenheiro Pedro Pinciroli Júnior, diretor responsável por toda a área de produção da Empresa Folha da Manhã S/A, ao explicar as causas que levaram à implantação do sistema de terminais de vídeo, coloca que "com a consolidação da TV como o grande veículo de comunicação de massa no Brasil, já não basta que os jornais informem com a lentidão da imprensa tradicional. É preciso agilizar a produção jornalística e ganhar velocidade na distribuição. Levar à casa do leitor o que a mídia eletrônica, por suas limitações estruturais, não pode: as interpretações inteligentes e as explicações que fazem com que as notícias tenham sentido inteligível."

"O sistema "Folha" de terminais - afirma Pinciroli - veio trazer velocidade e autenticidade maior às informações, uma vez que nos permitiu eliminar etapas no processo industrial gráfico e, também, que o jornalista falasse diretamente com seu público leitor."

Segundo o diretor, "outro motivo (da implantação do sistema) foi a política econômica e monetária deflacionária e recessiva, que elevou nossos custos administrativos, industriais e redacionais. Com os terminais, eliminando-se etapas de composição gráfica e agilizando o processo, estaremos aumentando a nossa produtividade".

De acordo com Pedro Pinciroli Junior, é meta, ainda, "buscar uma diferenciação do nosso jornal em relação aos demais, quanto aos anúncios: um visual melhor, classificados colocados por zoneamento e ordem alfabética e permitir ao anunciante de balcão visualizar o seu anúncio pelo terminal, no momento de autorizá-lo. Numa segunda etapa, o sistema nos permitirá a aptidão necessária para os anúncios nacionais via satélite". Segundo o diretor, "com o novo pensar tecnológico do final do século 20, tivemos o deslocamento de soluções baseadas em novos dispositivos para soluções baseadas em novas abordagens, entre elas a miniaturização e a teleinformática".

Todos esse fatores não só explicam, mas justificam a implantação do sistema de terminais de vídeo, composto por várias fabricantes, sob a responsabilidade da Compugraphic. São estes os fabricantes: Computer Automation, Control Data, Texas Instruments, Elebra e Sisco, estas duas últimas nacionais, "numa combinação que permitiu uma boa relação de velocidade, custo, flexibilidade e qualidade".

O engenheiro ressaltou que "com o sistema de terminais estaremos também na linha da evolução tecnológica que nos permite ter um banco de dados com o conceito de "library" (biblioteca), mas eficiente no trabalho de pesquisa e documentação, que sustentam a edição do noticiário". Segundo ele, "o sistema de terminais irá gerar transferência de funções, mas é fundamental para aumentar a competitividade de nossa empresa. O Japão, com mais de 70 mil robôs, tem um índice de produtividade quatro vezes maior que os Estados Unidos e não tem praticamente desemprego".

 

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